Dossiê Temático: 50 anos da Alternância no Brasil: o que dizem as pesquisas nacionais e internacionais
O ano de 2019 constitui um marco na Educação Brasileira, em especial para as experiências formativas da Educação do Campo, pela celebração dos 50 anos da Pedagogia da Alternância. Nascida na França e trazida para o Espírito Santo por um padre jesuíta, foi construída nas diferentes realidades de nosso país pelos sujeitos camponeses como uma possibilidade contra-hegemônica de educação que amalgama a formação escolar-acadêmica ao mundo do trabalho, ao pertencimento a terra e às suas identidades culturais. Nessa perspectiva, os grupos de pesquisas Culturas, Parcerias e Educação do Campo (CNPq/UFES) e de Investigação Internacional do Sistema Dual-Alternância da Universidade de Sherbrooke/Canadá, assumem junto à Revista Brasileira de Educação do Campo a proposição desse dossiê. Trata-se de uma oportunidade de reunir, no âmbito desse importante periódico, uma pluralidade de discussões e resultados investigativos que emergem da práxis dos monitores-educadores-professores e investigadores que atuam com a Formação por Alternância no Brasil, Canadá, Espanha, Camarões, Itália e França. Compreendemos esta oportunidade como um marco da reflexão, problematização e do compartilhamento das boas experiências, considerando os inúmeros desafios do cenário atual. Não se trata de um dossiê contemplativo, mas reflexivo e problematizador, no sentido de uma práxis viva e dinâmica, produzida por sujeitos historicamente situados, que se colocam no campo da resistência e por assim se constituírem pensam os contextos e acenam possibilidades. Desta forma, as pesquisas aqui compartilhadas emergem das mais diversas experiências, da educação básica ao ensino superior, o que nos revela o potencial transgressor da Alternância. Reconhecer essa diversidade de práticas é também afirmar que a Pedagogia da Alternância, nascida em terras brasileiras há 50 anos, constitui-se hoje em Patrimônio da Educação Brasileira e como tal figura na lei e nas políticas públicas. Contudo, a caminhada por ser histórica e social, também nos coloca desafios que surgem no próprio movimento de transformação da sociedade e dos modos de vida, trabalho e produção. Enfrentar tais desafios e permanecer na luta são aqui erguidos como bandeiras fulcrais na produção dos novos e outros sentidos da Formação por Alternância, sem afastar-se de seus pilares, suas mediações e/ou instrumentos pedagógicos e, sobretudo, com o fortalecimento de seu viés político, emancipador e transformador das realidades e de seus sujeitos. Com vistas a buscar uma organização dos textos por aproximação das discussões, reunimos em sequência os vinte e seis artigos a partir de três abordagens: Inicialmente os artigos que trazem a história da Pedagogia da Alternância e seu entrelaçamento com a Educação do Campo; princípios epistemológicos e análise das suas mediações ou instrumentos pedagógicos. Na sequência, os textos que discutem especificamente a Pedagogia da Alternância na formação de educadores-monitores-professores do campo e, por fim, em maior número, trazemos as investigações acerca da sua práxis nas diferentes experiências da educação básica escolar e para além dessa. Portanto, o que dizem as pesquisas nacionais e internacionais sobre a Pedagogia da Alternância nesses 50 anos de história é um convite ao conhecimento produzido por sujeitos que atuam, refletem e problematizam a práxis por meio da investigação científica.